Conheci o Marco Caldelas através
de amigos comuns, sempre sentados à mesa onde tivemos muitas e variadas
conversas. Percebi logo que o Marco era uma pessoa excecional, porque é um amante
incondicional do desporto, no qual também me encaixo como professora de
Educação Física, e com uma perspetiva de vida muito agradável e positiva. Do
tipo de pessoa que consigo ver perfeitamente como amigo porque partilhamos
muita coisa em comum, uma delas é o gosto pela vida e a vida principalmente de
um professor é um processo de interação entre aluno e professor e nunca o
contrário, não consigo conceber um professor como um circuito fechado em que
debita a matéria e não recebe resposta do outro lado. É preciso uma abertura e
um encaixe que o Marco percebeu desde muito cedo e mesmo não tendo cadeiras
associadas à pedagogia percebeu que dar e receber é o mesmo, ou seja se ele dá
também recebe e se recebe também dá e a vida dele tem-se pautado por isso mesmo,
dar e receber, e tem tido frutos nessa sua vida profissional, através dos
vários convites que tem recebido para trabalhar em ginásio. E foi numa dessas perspetiva
de dar e receber que convidei o Marco para vir à minha escola falar de desporto
sim, mas principalmente do seu testemunho de vida, um trajeto não muito fácil
cheio de adversidades, mas que ele conseguiu contornar e dar a volta. O Marco
sem receber nada, pelo contrário, só gastou tempo e dinheiro em deslocações, lá
foi à minha escola. O meu objetivo era perante uma turma de catorze alunos ligados
à gestão desportiva onde as espetativas de estudo são baixas, que encaram a
vida como uma fatalidade, com comentários como “ para que estudar, se não vou
ter emprego”, “ não gosto de estudar”, “ só estou aqui porque sou obrigado”,
uma palestra destas encaixava perfeitamente. E se dos catorze alunos um deles
mudasse de ponto de vista, o objetivo estava alcançado. E o Marco de uma forma
muito honesta e sincera falou dos espinhos que foi encontrando ao longo da vida,
dos muros que teve de contornar para singrar, sempre com muito esforço e muito
trabalho, sem nunca desistir, era esta perspetiva que eu queria que ele
transmitisse. Sem esforço sem trabalho não se consegue nada, e principalmente
sem partilha, sem se dar, a vida não tem sentido. E penso que conseguiu…
encontrou eco num dos alunos que apresentava este comportamento, mas nos
outros…..é difícil passar a mensagem, porque realmente a sociedade não está preparada
para os receber, mas se não lutamos contra a corrente, vamos mesmo nela e
afundamo-nos. Portanto, vale a pena lutar e a vida é só uma….
E nesta sequência gostaria de
escrever sobre o papel do professor nos dias de hoje, o que é ser professor?
Não é uma tarefa fácil. A criança começou a ter o seu lugar na sociedade e mais
do que isso, começou a sobressair numa sociedade onde o adulto perde autoridade
e não pode interferir no seu mundo. O trabalho na escola não seduz esta
criança, a sala de aula é um vazio, as solicitações fora da escola são maiores
e bem melhores, a um clique a criança tem tudo o que necessita, não só para se
divertir como para aprender, de uma forma mais dinâmica e cativante, assim como
o cinema, televisão os jogos eletrónicos, etc.
A escola nos dias de hoje é uma
empresa, onde o aluno é o cliente e o cliente numa sociedade mercantilista tem
sempre razão. A escola vista nesta perspetiva de empresa é um projeto obsoleto,
onde a linha de montagem, prepara alunos para profissões que ao saírem já não
existem ou não se adequam ao mercado. A resposta a esta escola/empresa surge com
a criatividade, onde o aluno deixa de ser um número e passa a ser uma pessoa. É
preciso estimular a criatividade, a capacidade de dar resposta, em vez de se
acumular informação é preciso saber fazer e resolver. É aqui que o professor
pode sobressair e valorizar o seu papel na parte afetiva na relação que
estabelece com o aluno, papel que o computador não poderá desempenhar.