Testemunho de Paula Matos - Professora de Educação Física e doutoranda em Estudos da Criança:


Conheci o Marco Caldelas através de amigos comuns, sempre sentados à mesa onde tivemos muitas e variadas conversas. Percebi logo que o Marco era uma pessoa excecional, porque é um amante incondicional do desporto, no qual também me encaixo como professora de Educação Física, e com uma perspetiva de vida muito agradável e positiva. Do tipo de pessoa que consigo ver perfeitamente como amigo porque partilhamos muita coisa em comum, uma delas é o gosto pela vida e a vida principalmente de um professor é um processo de interação entre aluno e professor e nunca o contrário, não consigo conceber um professor como um circuito fechado em que debita a matéria e não recebe resposta do outro lado. É preciso uma abertura e um encaixe que o Marco percebeu desde muito cedo e mesmo não tendo cadeiras associadas à pedagogia percebeu que dar e receber é o mesmo, ou seja se ele dá também recebe e se recebe também dá e a vida dele tem-se pautado por isso mesmo, dar e receber, e tem tido frutos nessa sua vida profissional, através dos vários convites que tem recebido para trabalhar em ginásio. E foi numa dessas perspetiva de dar e receber que convidei o Marco para vir à minha escola falar de desporto sim, mas principalmente do seu testemunho de vida, um trajeto não muito fácil cheio de adversidades, mas que ele conseguiu contornar e dar a volta. O Marco sem receber nada, pelo contrário, só gastou tempo e dinheiro em deslocações, lá foi à minha escola. O meu objetivo era perante uma turma de catorze alunos ligados à gestão desportiva onde as espetativas de estudo são baixas, que encaram a vida como uma fatalidade, com comentários como “ para que estudar, se não vou ter emprego”, “ não gosto de estudar”, “ só estou aqui porque sou obrigado”, uma palestra destas encaixava perfeitamente. E se dos catorze alunos um deles mudasse de ponto de vista, o objetivo estava alcançado. E o Marco de uma forma muito honesta e sincera falou dos espinhos que foi encontrando ao longo da vida, dos muros que teve de contornar para singrar, sempre com muito esforço e muito trabalho, sem nunca desistir, era esta perspetiva que eu queria que ele transmitisse. Sem esforço sem trabalho não se consegue nada, e principalmente sem partilha, sem se dar, a vida não tem sentido. E penso que conseguiu… encontrou eco num dos alunos que apresentava este comportamento, mas nos outros…..é difícil passar a mensagem, porque realmente a sociedade não está preparada para os receber, mas se não lutamos contra a corrente, vamos mesmo nela e afundamo-nos. Portanto, vale a pena lutar e a vida é só uma….

E nesta sequência gostaria de escrever sobre o papel do professor nos dias de hoje, o que é ser professor? Não é uma tarefa fácil. A criança começou a ter o seu lugar na sociedade e mais do que isso, começou a sobressair numa sociedade onde o adulto perde autoridade e não pode interferir no seu mundo. O trabalho na escola não seduz esta criança, a sala de aula é um vazio, as solicitações fora da escola são maiores e bem melhores, a um clique a criança tem tudo o que necessita, não só para se divertir como para aprender, de uma forma mais dinâmica e cativante, assim como o cinema, televisão os jogos eletrónicos, etc.


A escola nos dias de hoje é uma empresa, onde o aluno é o cliente e o cliente numa sociedade mercantilista tem sempre razão. A escola vista nesta perspetiva de empresa é um projeto obsoleto, onde a linha de montagem, prepara alunos para profissões que ao saírem já não existem ou não se adequam ao mercado. A resposta a esta escola/empresa surge com a criatividade, onde o aluno deixa de ser um número e passa a ser uma pessoa. É preciso estimular a criatividade, a capacidade de dar resposta, em vez de se acumular informação é preciso saber fazer e resolver. É aqui que o professor pode sobressair e valorizar o seu papel na parte afetiva na relação que estabelece com o aluno, papel que o computador não poderá desempenhar.

Relaxe os músculos e jogue: